segunda-feira, 30 de junho de 2008

Apagava o quinto cigarro no cinzeiro enquanto observava-o dormindo. "Filho da puta", pensou e ascendeu mais um:

- Nem para isso ele serve. Paguei essa merda de motel para bosta nenhuma. Diacho. - Reclamava baixo.

Vestida como veio ao mundo, era visível a raiva estampada na face morena. Por debaixo das franjas grossas, negras, poderia estar descrita toda a aversão que sentia por aquele rapaz ali, dormindo, com todo o pudor a mostra. Morto.

- Morto? - sussurrou. Apagou mais um cigarro, levantou-se, contemplou seu corpo mulato, com curvas de deixar qualquer homem tonto. Menos aquele. Com um riso safado no canto da boca, dirigiu-se até ele e, passando a perna por cima dele, sentou com o seu sexo, ainda quente de desejo, tesão e vontades, em cima do dele, morto, minúsculo, inútil.

Antes de qualquer ato, levantou a cabeça e olhou para cima. O espelho do teto refletia a cena que tinha tudo para ser erótica e de um ato prazeroso, intenso...

"Definitivamente, não o amo mais. Nem para me comer esse inútil serve" - pensou, pegando um dos travesseiros jogados à sua volta. Apertou a cabeça dele contra o colchão e o sentiu debater-se, agonizar. Os gritos abafados misturavam-se com os gemidos vindos da televisão. Ainda pressionando o travesseiro contra ele, cavalgou deliciosamente naquele sexo morto e sentiu seu gozo quente escorrendo pelas pernas no instante em que ele deu seu último suspiro.

Fez-se silêncio.

3 Comments:

Mafê Probst said...

Uau Carol, texto pesado esse. Mas muito bom!

Antônio Dutra Jr. said...

"Pesado", diz a Fê. Confesso que pensei a mesma coisa. E, digo mais: adorei!
Vocabulário intimista, decidido, sem rodeios e, principalmente, de muita qualidade. Do jeito que tu elogiou meu blog, então, não tem como não virar assíduo por aqui, tudo contribui.

Obrigado pelas palavras e vê se continua nos brindando com essas histórias suculentas.

Beijão!

marden said...

queria que se abrisse mais!